Minha filha me ensina a rezar: o tempo, o medo e o sagrado
by
Biatriz barbosa
O tempo da maternidade não escuta prece — ele não acelera porque a gente quer, nem volta porque a gente precisa. Quem luta contra o tempo enquanto cuida de um bebê perde conexão com a terra que sustenta seus passos. E sem chão, onde é que a gente se apoia?
Mãe que tenta correr contra o ciclo da natureza se esquece que ela é natureza. O corpo sabe. O bebê sabe. A vida sabe. A cura é lembrar (coletivamente) que somos bicho e que a pressa é um veneno moderno.
O cuidado é sagrado. Ele tem seu compasso, dança no seu próprio tempo, pedindo presença para afastar o medo. Medo de errar, de faltar, de perder o controle, de não dar conta.
É preciso reconhecer que ser mãe é um ato mágico. Só que medo e magia não funcionam juntos. Não dá pra pedir proteção, força, caminhos abertos — e ao mesmo tempo alimentar o medo. A ansiedade azeda o cuidado. Suga o presente. É a experiência desastrosa de tentar embalar um bebê pensando no pior. É como rezar com o corpo aqui e a cabeça fugindo.
A bússola da mãe não pode ser o medo porque o medo não cria nada. O medo paralisa, repete padrões, silencia a intuição.
É por isso que maternar também é aprender a fechar os buracos por onde nossa energia escapa. É lembrar que seu corpo, sua voz, sua presença — são sagrados. Voltar pra si mesma é a primeira magia.